sábado, 13 de junho de 2009


BATISMO..

Antes de demonstrar que a forma “correta”[3] de administrar o batismo é a aspersão. Façamos uma análise rápida dos argumentos usados em defesa da imersão.
a) Batizar significa imergir somente. “No grego secular bapto, baptizo e baptismos expressam a idéia de imersão; conseqüentemente devem ter a mesma significação quando usada no NT.”
Quanto a isto temos duas objeções:
1ª) Supondo (somente supondo) que no grego secular batizar significa somente imergir, não se segue necessariamente que o NT tenha empregado a palavra com o mesmo sentido exclusivo.
A palavra que designa o outro sacramento -- CEIA --, não é utilizada no sentido fixo e uniforme que recebe no meio secular. No tempo do NT significava uma refeição completa, a principal do dia, nunca tomar uma migalha de pão e um gole de vinho. Se o sentido original e uniforme do vocábulo empregado com relação a uma ordenança não se conserva, por que deveria ser fixo com relação ao outro? Pois não há diferença de importância entre ambos.
Ainda que no grego clássico batizar significasse somente imergir, não podemos pretender que esse tivesse de ser o seu sentido no NT. Há muitas outras palavras que tem no NT sentido completamente diferente do que tem no grego clássico. Por exemplo: LOGOS, quando se aplica à Segunda Pessoa da Trindade. Que escritor profano empregou esta palavra com tal sentido?
2ª) A palavra “baptizo” não significa somente imergir. Pode expressar a idéia de imersão parcial, imersão total, absorção ou efusão. Também pode ser empregada com o sentido de derramar sobre, lavar, limpar, tingir, manchar. Tudo isso pode ser comprovado consultando-se qualquer bom dicionário de língua grega.
Alexander Carson, um batista, escreveu: “meu critério é que este vocábulo (baptizo) significa sempre submergir; e que sempre se refere ao modo. Pois bem: dado que, tendo todos os lexicógrafos e comentaristas contra mim, será necessário dizer duas palavras a respeito da autoridade dos dicionários”[4]
b) A expressão aplicada a João, o Batista: “João batizava também em Enon (...) porque havia ali muitas águas” (Jo 3:23).
Em Enon havia “muitas águas”. Essas “muitas águas” na verdade eram muitas fontes ou arroios. Não há dúvida que eram fios d’água, pois não havia rios caudalosos perto de Enon. Essas fontes eram preciosas para saciar a sede das multidões que atendiam ao ministério de João. Tais fontes, porém, não serviam para a imersão. Para a imersão é necessário muita água, mas a frase diz muitas águas. João não podia usar mais água que a de um pequeno arroio, e isso era perfeitamente adequado! Se o modo de administrar o batismo era a imersão, por que João deixou o Jordão para fixar-se em Enon? Onde estava, no Jordão, havia muita água. Para quê buscá-la em outro lugar? Portanto esta frase não tem nenhuma força para determinar o modo do batismo.
c) A expressão de Paulo em Rm. 6.4 “fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo..”
Que modo de batizar parece com um sepultamento? Se pensarmos num ataúde baixando à terra e por ela sendo coberto, a imersão pode parecer mais com um sepultamento. Mas estamos tratando de um símbolo. E um símbolo pode parecer tanto com aquilo que significa quanto uma aliança de casamento “parece” com a fidelidade. De fato, esta semelhança perde qualquer sentido quando vemos que Paulo se refere ao sepultamento de Cristo! E como Cristo foi sepultado? “e o depositou no seu túmulo novo que fizera abrir na rocha; e rolando uma grande pedra para a entrada do sepulcro, se retirou.” (Mt. 27.60). Portanto Rm. 6.4 nada acrescenta sobre a forma de batismo e esta não é a intenção do apóstolo ao escrever o capítulo 6. Provavelmente ele se entristeceria ao constatar como cristãos se deixaram distrair das questões importantes, ensinadas neste capítulo, acerca do pecado e da graça para se deterem em exterioridades. O Apóstolo não tinha em mente fixar norma sobre a forma de batismo, nem aqui nem em nenhum outro trecho de suas epístolas.
Há, talvez, outros argumentos de menor peso, porém cremos que eles se desfarão se tratarmos logo de demonstrar o que afirmamos: o modo “correto” de batizar é a aspersão.
O Batismo: Uma novidade?
Talvez muitos cristãos imaginem que os judeus não conheciam nem praticavam nada semelhante ao que é descrito em Marcos 1.4... “apareceu João Batista no deserto[5], pregando batismo de arrependimento.”
Será que João Batista introduziu um rito completamente novo, desconhecido aos judeus? Vemos que o NT não explica o ritual do batismo, dando a entender que os judeus não necessitavam de explicações. Isso porque o batismo não foi uma cerimônia introduzida por Jesus, João ou os apóstolos, mas era uma prática comum entre os judeus desde os primórdios de sua organização como povo. Estes batismos eram feitos usando-se a água ou outro elemento, como o sangue.
Vejamos alguns textos:
“Quando voltam da praça, não correm sem se aspergirem (no original grego “batizarem”); e há muitas outras cousas que receberam para observar, como a lavagem (“batismo”) de copos, jarros de metal e camas. (Mc 7.4)
“O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara (batizara) primeiro, antes de comer. (Lc 11.38)
Também Eclesiático[6] 34.25 diz: “Ao que se lava (batiza) depois de haver tocado um corpo morto, e torna a tocá-lo outra vez, de que lhe valerá o ter-se lavado?”
Todas estas passagens dão a entender que os batismos eram cerimônias comuns:
... não comem sem se batizarem...
... cousas que receberam para guardar, como o batismo de copos...
... ao que se batiza depois de haver tocado um cadáver...
Não falamos ainda sobre o modo como se batizavam. O fato é que se batizavam e que os batismos eram fato normal entre eles, independentemente da disputa acerca do significado da palavra.
Note que estes “batismos” não são invenção humana. O autor de Hebreus fala de “diversas abluções (no original “diversos batismos”) impostas até ao tempo oportuno de reforma.” (9.10; ver tb Hb 6.2). Impostos quando e onde? Com certeza, na Lei de Moisés, que prescrevia minuciosamente as “oferendas e sacrifícios, embora (...) ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto”. (Hb 9.9).
Portanto, quando Jesus veio, encontrou o povo praticando esses diversos batismos (o deles mesmos, dos copos, das camas, etc) como uma prática cotidiana. Insistimos em que se note a forma normal e familiar do NT tratar a matéria. João aparece batizando no deserto, porém não há surpresas; não se dão explicações. Ele veio pregando o batismo “de arrependimento”. Nova era a doutrina que pregava, não a cerimônia que praticava. De fato, a cerimônia era algo que o povo esperava ver o Messias realizar, bem como todo profeta verdadeiro. Por isso, quando João lhes disse que ele não era o Cristo, nem Elias, nem o profeta, a pergunta imediata que lhe fizeram foi: “Por que, pois, batizas?”[7] dando a entender, claramente, duas coisas:
a) que os profetas tinham o costume de batizar;
b) que esperavam que o Messias fizesse o mesmo na sua vinda.
Quando o próprio Senhor foi a João, embora não necessitasse de arrependimento ou purificação, disse a ele “... convém que cumpramos toda a justiça.” Justiça aqui significa “aquilo que a Lei exige”. Estas palavras contêm o princípio geral pela qual o Senhor se conduzia -- obedecer a todas as ordenanças da Lei de Moisés, pois foram instituídas por Deus. Portanto, os batismos eram cerimônias eminentemente religiosas ‘impostos’ pela Lei.
Os batismos dos judeus não eram feitos por imersão
A esta altura poderíamos pedir, àqueles que acham a forma essencial, que demonstrem que os batismos que os judeus praticavam eram sempre por imersão. Levando-se em conta os seus princípios exclusivistas (“nós estamos certos, eles errados”), são necessariamente obrigados a fazê-lo.
Porém, tentaremos demonstrar uma proposição negativa. Tais batismos nunca eram feitos por imersão.
a) a imersão não está estabelecida
Apesar de aqueles diversos batismos serem “impostos” ao povo como qualquer outra parte do ritual judaico, em lugar algum da Lei de Moisés se estabelece a imersão. Não se pode dar um só exemplo de que se exigisse do judeu a imersão em água em cumprimento a uma cerimônia religiosa.
Se não se pode provar a imersão, se não existe um mandamento, como poderíamos concluir que “era assim”, e mais, que “quem não faz assim” está errado!
b) Os batismos eram por aspersão ou efusão
Não vemos a imersão em nenhum lugar do AT, mas a Lei Mosaica ordena expressamente o modo destes batismos:
“Assim lhes farás para os purificar: asperge sobre eles água da purificação ....” (Nm 8.7);
“Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele aspergirá para a frente da tenda da congregação ... (Nm 19:18).[8]
Vemos, pois, que na Antiga Aliança o modo de purificação estava claramente ordenado. Supor que se batizavam ou purificavam por imersão é supor que agiam sem mandamento, ou pior, contra o mandamento. Os batismos judaicos eram “impostos” (Hb 9:10) pela Lei. Eram simples purificações, como os textos demonstram e o modo era a aspersão, nunca a imersão.
c) As aspersões e efusões são chamados batismos.
Mostramos que a aspersão era ordenada e praticada e a imersão era desconhecida. Além disso, a tradução grega dos escritos judaicos refere-se a este método de purificação por aspersão usando a palavra “batizar”. Preste atenção: Esta palavra que, tantas e tantas vezes e em tanta confiança nos dizem significar submergir — e nada além disso —, se aplica a estas aspersões judaicas. A tradução grega de Eclesiástico 34:25 diz:
“Aquele que se batiza depois de haver tocado num corpo morto, e torna a tocá-lo, de que lhe valerá a ter-se lavado?”
Já vimos que o modo como se realizava este batismo por haver alguém tocado num corpo morto, está claramente ordenado na Lei de Moisés:
“Todo aquele que tocar o cadáver de qualquer pessoa e não se purificar, contaminou o Tabernáculo do Senhor, e essa pessoa será cortada de Israel; porquanto a água da purificação não foi aspergida sobre ele, [por isso] imundo será, e a sua imundícia será sobre ele” (Nm 19:13).8
Portanto, vemos que o NT utilizou uma palavra que já era usada há pelo menos 200 anos para designar estas cerimônias. Se a palavra batizar era usada, por centenas de anos, para indicar a aspersão, por que ensinar que no tempo do Senhor e de João Batista os judeus realizavam seus batismos de outro modo?
Muito antes da vinda de Jesus já se havia lido que aspergir-se por causa dos mortos era como batizar-se por eles [9]. Dizer que o método era a imersão é ir contra toda a evidência, visto que a aspersão aparece ensinada universalmente no AT.
d) “batizar” equivale a “lavar”.
Por exemplo Mt. 15:2 - “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem. Comparado com Lc 11:38 “O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara (no grego: batizara) primeiro, antes de comer”.
Aquele se batiza por haver tocado num corpo morto, e torna a tocar nele, de que se valerá o ter-se lavado? Portanto lavar e batizar podem ser usadas para descrever a mesma ação.
e) O batismo judeu era um rito cotidiano.
Os judeus não só se “batizavam” antes das refeições, ou “batizavam” as mãos antes de comer, mas batizavam-se também por causa de outras impurezas, como, por exemplo, quando se contaminavam, tocando um corpo morto. O mesmo faziam com as mesas e camas. Note que estes batismos de mãos antes das refeições não eram feitos com motivações higiênicas conforme fazemos atualmente. Era o cumprimento de um ritual religioso.
Se tudo isso era feito por imersão, cada família deveria ter um lugar apropriado. Neste caso o batistério seria um lugar essencial de cada casa judaica. Porém, não há evidência histórica ou bíblica que houvesse tal lugar em alguma casa, quer rica, quer pobre.
Não sendo necessária a imersão, deveria, então, existir alguma coisa para cumprir seus rituais de outra forma.
De fato, o NT se refere a vasilhas com capacidade para conter de 80 a 100 litros, pequenas demais para se imergir alguém, mas grandes o suficiente para se meterem as mãos nelas com o propósito de se retirar água usada para aspergir ou derramar sobre pessoas ou objetos. São as talhas de pedra mencionadas nas Bodas de Caná da Galiléia, “que os judeus usavam para as purificações.” (Jo 2.6)
f) O livro de Hebreus confirma os batismos por aspersão ou efusão
O livro de Hebreus (9.10) faz menção às “diversas abluções (batismos) impostas” ao povo. Já vimos que a Lei de Moisés não ordena a imersão, portanto estes “batismos impostos não podiam ser realizados dessa forma.
Também, pelo contexto imediato, fica claro que eram batismos “com o sangue de bodes, touros e as cinzas de uma novilha aspergidos sobre os contaminados” (9.13).
O autor de Hebreus contrasta o culto judaico com a dispensação cristã. No primeiro havia regulamentos com respeito a comidas e bebidas, e diversos batismos e ordenanças acerca da carne. O sangue dos animais ou as cinzas de uma novilha misturadas à água, aspergidos sobre os imundos cerimonialmente os santificavam quanto à purificação da carne. Na dispensação cristã, o sangue de Cristo é eficaz. No primeiro, “Moisés (...) tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã e escarlate e aspergiu o livro da Lei e o povo, além do tabernáculo e seus utensílios” (Hb 9.19,21).
Sem discussão, estes são os “diversos batismos” a que se refere o v.10.
E sempre por aspersão!
g) A figura do Batismo com o Espírito Santo favorece a efusão ou aspersão
Observe a linguagem bíblica empregada em relação a este tema.
“Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.” (At 1.15).
No capítulo seguinte a promessa se cumpre e Pedro explica o acontecido ao povo usando a profecia de Joel: “e acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne... até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito.”
Vemos assim, sem discussão que a ação de Deus derramar o seu Espírito sobre os discípulos é chamada de batismo com o Espírito Santo. Temos aqui, indiscutivelmente um batismo por efusão, um batismo no mais elevado sentido da palavra. E já que o próprio Espírito o representou como um derramamento e o chamou de batismo nas Escrituras que Ele mesmo inspirou, por que querer impor uma forma diversa? Por que afirmar, contra toda evidência, que a imersão é a única forma correta? Quando, em imediata relação com o derramamento do Espírito, se menciona o batismo com água de cerca de três mil pessoas, não é duvidoso, para dizer o mínimo, que estas pessoas tenham sido metidas na água ao invés de se aplicar água sobre elas? O mais sublime batismo, o do Espírito Santo -- do qual o outro é um tipo -- é por efusão. Será o tipo administrado de um modo totalmente diferente?
h) Esperava-se que o Messias batizasse, e a forma esperada era a aspersão
Já vimos que os judeus esperavam que o Messias batizasse.
“Por que batizas, se não és o Cristo...?” foi a pergunta que fizeram a João Batista (Jo. 1.25). Qual a origem desta expectativa? Tentarei explicar. Referindo-se ao Messias, o texto de Isaías 52.15 diz:
“Assim causará admiração às nações...” (Edição Revista e Atualizada).
Até 1960, porém, em lugar de “causar admiração” o verbo hebraico “nazah” era traduzido por aspergirá. A profecia seria, então, “ele aspergirá a muitas nações.” “A nova tradução, mui discutível, funda-se mais em razões exegéticas que filológicas.”[10]
De fato, a Edição Contemporânea da Bíblia traz:
“...assim borrifará a muitas nações.”
Em uma visão da Nova Aliança, o profeta Ezequiel assim escreve: “então, aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados” (v. 25).
A esta promessa seguem-se as promessas da concessão de um novo espírito e coração (v.26) e de que o Espírito faria morada dentro do homem (v.27) para fazê-lo obedecer à Lei. Veja também Jr 31.31-33.
Reconhecemos, então, que os profetas utilizaram um ritual de purificação, por eles conhecido, como um símbolo da real purificação que o Messias realizaria no impuro coração humano. Os tradutores da Bíblia viva corretamente parafraseiam Is. 52:15 da seguinte forma: “... com seu sofrimento ele purificará a muitas nações.”
O Messias “aspergirá a muitas nações ....”.
“Aspergirei água pura sobre vós ....”
“Por que batizas, se não és o Cristo (...) ?”
Mais uma vez, nenhum indício de imersão e uma forte evidência em favor da aspersão.
i) A simplicidade dos batismos no NT.
Cremos já ter estabelecido solidamente o fato de que, se havemos de invalidar o batismo de alguém por causa da maneira como foi aplicado, não será o daqueles que foram batizados por aspersão. Se o leitor tiver um pouco mais de paciência poderemos ainda nos deter no exame dos batismos descritos no NT.
Uma evidência em favor da aspersão no NT é o fato de que as pessoas eram batizadas imediatamente, no lugar em que se convertiam, quer fosse na cidade, quer no deserto; numa casa ou em uma estrada; na prisão ou à margem de um rio; no inverno ou no verão. Não havia demora, não há referência alguma à saída para um lugar adequado para a imersão.
Quando alguém cria, no mesmo instante e no mesmo lugar havia sempre o necessário para ser batizado. Por isso, é muito difícil crer que fosse assim, se se praticasse a imersão. Pode-se supor, sim, mas é uma suposição altamente improvável. Vejamos alguns exemplos:
Paulo (At 9). Após sua queda e cegueira no caminho de Damasco, Paulo permaneceu três dias em jejum na casa de Judas. Ananias, guiado por Deus, entra na casa e, após breve instrução, batiza Paulo. Diz o texto: “a seguir, levantou-se e foi batizado”.
Havia um tanque na casa? foram a outro lugar? O texto não diz. A única “prova” seria o pretendido significado de “batizar”. Todas as circunstâncias são contra a imersão: na mesma casa, em pé, sem demora para preparar-se, sem sair nem entrar, pondo-se imediatamente a serviço de Cristo.
O carcereiro de Filipos (At 16). Convertido na prisão a altas horas da noite e, lá mesmo, imediatamente batizado junto com os seus. Foram a algum rio em plena noite? Havia um tanque na prisão? Quantas dificuldades o texto apresenta se partirmos do pressuposto de que batizar significa imergir, e nada mais. Por outro lado, quão simples se torna o relato, se se leva em conta que, para o povo judeu, era coisa natural o batizar-se por aspersão ou efusão.
Cornélio e sua casa (At 10). Sobre este episódio, se diz que o “Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a palavra. “Admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do “Espírito Santo”. “Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo (At 10.44; 11:15-16).
“Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o dom do Espírito Santo?” (At 10:47). Pedro batizou estas pessoas por imersão? De um lado somente uma suposição contra toda evidência. De outro porém, além da forte impressão que Cornélio foi batizado em sua própria casa, há o registro de que o “derramamento” do Espírito fez Pedro pensar que os termos batizar, derramar e cair — aplicados ao Espírito Santo — implicavam uma idéia semelhante à água.
Filipe e o eunuco (At 8:26-39). Comumente este é um texto julgado claramente em favor da imersão. Em sua viagem, o etíope lia Isaías 53; provavelmente ele tinha acabado de ler o último versículo do capítulo 52 “ele aspergirá muitas nações”. Filipe lhe explicou a passagem e, quando chegaram a um lugar onde havia água, desceram a ela e Filipe batizou o eunuco. Por imersão? Mesmo entendendo o texto como uma entrada real na água, nem por isso fica demonstrada a imersão. Leve-se em conta que as sandálias podiam ser facilmente tiradas, e que isto estaria de acordo com os costumes orientais e que, depois de descerem à água, Filipe lhe administrou o rito do batismo por aspersão ou efusão. Por outro lado, é muito duvidoso que no lugar deserto onde se encontravam houvesse uma corrente de água com profundidade suficiente para submergir o eunuco.
Tudo indica que não esperaram para obter roupas próprias para o batismo e não é provável que o viajante se submergisse com a roupa que trazia ao corpo. O texto diz simplesmente que, após o batismo o eunuco “foi seguindo seu caminho cheio de júbilo”. Diz o texto, também, que Filipe foi “arrebatado pelo Espírito do Senhor” para Azoto. Não podemos presumir que o Eunuco seguiu viagem pingando água e Filipe achou-se repentinamente em Azoto com as roupas encharcadas.
Os três mil de Atos 2 (vv 37-41). No mesmo dia em que os discípulos foram batizados do alto pelo derramamento do Espírito sobre eles, mais três mil almas foram acrescentadas à Igreja. Foram submergidos estes convertidos? Para responder que sim, só se pode dar como prova o pretenso significado da palavra batismo, o qual já descartamos. Nada mais no texto pode sugerir a submersão. Porém, para negá-la, amontoa-se uma série de circunstâncias: Não havia lugar para realizar essa forma de batismo, nem no templo, nem nos arredores onde estavam reunidos. Quem sabe foram em procissão até a porta dos ovelhas onde havia um tanque, pediram licença à multidão de enfermos que lá jazia (Jo 5:1-3) e passaram horas e horas, provavelmente até tarde da noite, submergindo três mil pessoas.
Será que naquele dia Jerusalém presenciou multidões de pessoas andando pelas ruas, a caminho de suas casas com as roupas gotejando, encharcadas, coladas a seus corpos?
Todos esses obstáculos, mais o fato de o batismo do Espírito Santo ter sido descrito como um derramamento, na realidade se opõe fortemente à idéia da imersão, ao passo que se harmoniza perfeitamente com a aspersão ou efusão. Para esta última forma de batismo havia tempo suficiente; o lugar onde estavam era adequado, não era preciso uma muda de roupa e ninguém necessitou voltar molhado para casa. Não há, portanto, contradição entre o batismo do Espírito e o da água. A palavra batizar se emprega em ambos os casos, com o mesmo sentido, pois tanto a água como o Espírito são derramados sobre as pessoas.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

OS QUERUBINS

Quem são os querubins?
è Querubim – Do grego “cheroubim” (plural de “Cheroub”), refere-se a um mensageiro celeste alado. Trata-se, ao que tudo indica, de uma transliteração do hebraico ou do aramaico, daí a diversidade de terminações no plural.
Os querubins são geralmente representados como criaturas celestiais dotadas de asas, mas também com pés e mãos. Ao longo do Antigo Testamento, os querubins são representados como seres simbólicos e celestiais. No livro de Gênesis, por exemplo, eles aparecem como guardiões da entrada do Éden, para impedir a aproximação de Adão e Eva da árvore da vida, pois o primeiro casal havia sido expulso do Paraíso. “E (Deus) havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden” (Gn. 3.24). Semelhante função é vista na representação tipológica do tabernáculo. Ali, na divisão do Santo dos Santos, os querubins, feitos de madeira e trabalhados em ouro puro, são colocados em cada extremidade do propiciatório que cobre a arca da aliança com as faces voltadas um para o outro, e cobrindo a arca com as asas estendidas (Ex.25:18-22). Isto, sem sombra de dúvida, sugere o protecionismo dos querubins aos objetos sagrados na arca, e simboliza também, a presença de Deus, cuja glória se manifesta entre eles (Lv. 16:2).
Os querubins adornavam também as cortinas interiores do tabernáculo e o véu que separavam o Santíssimo do lugar Santo (Êx. 26:1,31), e tipificavam as hostes celestiais do Senhor dos exércitos (1 Cr.16:6). Encontramos também, pela leitura da Bíblia, outra figura desses seres celestiais, agora no templo de Salomão. Ali, no chamado oráculo do templo, foram colocados dois querubins, cujas asas, cada uma medindo seis metros, estendiam-se por toda a largura do santuário (1 Rs. 6:22-28). Em outras palavras, a sugestão desse quadro é que os querubins servem de fato como guardiões do trono de Deus.
Na maioria das citações bíblicas sobre este assunto, os querubins aparecem sempre ao redor do trono de Deus. Em Salmo 80.1, lemos o seguinte texto: “O Pastor de Israel, dá ouvidos, tu, que guias a José como a um rebanho, que te assentas entre os querubins, resplandece”, e, em Salmo 99.1, as Escrituras afirmam que o Senhor está “entronizado entre os querubins”. Daí a razão por que no tabernáculo, e depois no templo, os querubins eram colocados sobre as extremidades do propiciatório que cobria a arca da aliança, símbolo da presença de Jeová.
Numa de suas inspirações poéticas, Davi, em segundo Samuel 22.11, representa Jeová montado sobre querubins e voando sobre as asas do vento. A própria Bíblia compara a velocidade de vôo dos querubins com a do próprio vento (Sl.18:10).
Somente Ezequiel, dentre todos os profetas do Antigo Testamento, menciona a palavra. Este profeta, junto ao rio Quebar, teve uma visão da glória divina e também dos querubins, cada um deles tinha quatro faces e quatro asas (Ez. 10:1-22). Esses querubins do capítulo 10, são as mesmas criaturas que ele viu no capítulo 1, cada um com quatro faces com rosto de homem, rosto de leão, rosto de boi e rosto de águia (Ez 1:5-12). Já na visão do profeta sobre a Jerusalém restaurada (Ez.41:18,19), as semelhanças esculpidas dos querubins tinham apenas duas faces, uma de homem e outra de leão novo.
Ezequiel também mostra no seu livro que aqueles querubins de ouro sobre os quais descansara a glória de Deus de Israel estavam abandonados agora (Ez. 9.3), e o Senhor se encontrava entre os querubins vivos que cumpriam todas as vontades dele (Ez. 1:5), pois Ele mudara o lugar do seu trono para fora do templo. Em Ezequiel, os querubins também guardam a presença de Deus (Ez. 28.14-16).
A propósito, com relação ao trono-carro descrito em Ezequiel 1, é bom ressaltar que os rabinos consideravam esta passagem uma mera especulação. Com efeito, o Mishná proibiu o emprego litúrgico dos capítulos de Ezequiel que fazem esta descrição. Mas a verdade é que, embora não conheçamos profundamente as qualidades morais e éticas dos querubins, eles aparecem sempre associados com Deus, e lhes são protetores do trono de Deus e seus embaixadores excepcionais.
No Novo Testamento, a palavra ocorre tão-somente em Hebreus 9.5, onde aparece a frase “querubins da glória”. No apocalipse é provável que as “criaturas viventes” (Ap. 4:6-8) ali citadas, pertençam à categoria dos querubins.


Rodrigo de Assis Dutra.
Deus abençoe a todos.

A ESCRITA DA MISHNÁ.

*Deus transmitiu a Moisés duas Torot (plural de Torá), uma é a TORÁ escrita e a outra a TORÁ oral.
1º Torá são as leis de Deus passadas a Moisés, que tem como o centro de tudo o Pentateuco.
2º Torá é exclusiva aos judeus, eram preceitos divinos passados de geração a geração, preceitos que não foram escritos. Com o passar do tempo e a miscigenação do povo de Israel, a Torá oral foi perdendo a sua essência e sendo modificada. Para conservar a Torá oral para as nações seguintes, decidiram escrevê-la, surgiu então a Mishná.
Tanaimà foi um grupo de rabinos que lutaram a favor da escrita da segunda Torá. A Mishná foi escrita por volta do ano 200 pelo Rabino Judá HaNasi.
Guemará são os comentários rabínicos sobre o Mishná.
Os Judeus juntaram o Mishná com o Guemará e deram então origem ao Talmude, que se tornou a fonte da lei Judaica. O talmude “ou talmud em hebraico” significa: caminhar, evoluir.
Obs: muitas vezes o talmude é chamado de Shas (uma abreviação de Shisha ou Sedarim), ou seja, as seis ordens (que é o mishná).

· Para entendimento da segunda parte deste estudo, é necessária a explicação de algumas palavras.
Tefilin = deriva de Tefilá que significa: Prece, súplica. São duas pequenas caixas quadradas de couro de animal “permitidos para consumo”. Estas caixas devem formar um quadrado perfeito e as tiras de couro devem ser pintadas de preto, sem qualquer falha. Dentro de cada caixa encontram-se “escritos” em forma de pergaminho (que também é feito de coro de animal).
Shemá = Era uma oração que todo judeu recitava duas vezes ao dia. Esta recitação era chamada de Keriat Shemá. Era meio cantarolada em voz alta. Era também entoada pelos sacerdotes no templo e pelo povo na sinagoga e nas praças. Normalmente era recitado de manhã e a noite seguindo o preceito da Torá: Estas palavras as inculcarás aos teus filhos e delas falarás …ao deitar-te e ao levantar-te ( Dt 6: 7). O shemá tinha três partes. A primeira era uma súplica mais individual (Dt 6: 4-9) e refere-se ao amor em estado puro, sublime; a segunda referi ao coletivo (Dt 11, 13-21) e ao amor praticado. A terceira parte está em Nm 15, 37-41 e era uma prece de bênção. A recitação do shemá era envolvida por toda uma ritualidade que incluía o uso do kipá, ou seja, solidéu (usado na cabeça), os ombros cobertos com o talit e outros pré-requisitos opcionais. Nesta prece estava sintetizada toda a lei e todos os profetas.

O Tratado Brachót (‘Bençãos’) é constituído por nove capítulos dos quais só os quatro últimos falam de bênçãos propriamente ditas. Os três primeiros contêm as regras para a recitação do shemá, e os próximos dois as regras para recitação da tefilá (Capítulo quatro, Capítulo cinco). O Tratado primeiro estabelece as horas em que o shemá deve ser recitado; primeiro de noite e depois de manhã - de preferência na sinagoga - e então especifica um número de condições para sua recitação e quais são as pessoas que estão isentas desta recitação. De passagem, também são discutidas as condições em que a Torá pode ser estudada e tefilin usado. Então, o Tratado segue com a discussão sobre a recitação da tefilá em linhas similares. O Capítulo seis primeiro cita o princípio pelo qual antes de se comer uma pessoa deve fazer uma benção, e depois estabelece os tipos de benção para diferentes tipos de alimentos. O Capítulo sete trata especificamente do agradecimento antes e depois das refeições, e da etiqueta à mesa de forma geral. Em particular, trata do zimum ou o convite para se unir ao agradecimento. O Capítulo oito estabelece as regras de lavagem das mãos quando se for comer, a benção sobre o copo de vinho e a havdalá quando o Shabat termina. O Capítulo nove formula as bençãos que devem ser proclamadas em um grande número de ocasiões.
O Tratado de Brachót contém mais Agadot em relação ao seu tamanho do que qualquer outro tratado. O longo Capítulo nove é em sua maior parte "agádico" e se faz notar pelo longo apêndice sobre interpretação de sonhos. Outra pérola da Agadá é a querela entre o Raban Gamliel e o R. Yeoshua no Capítulo quatro. O Capítulo seis ilumina enormemente os costumes
alimentares dos Judeus da Babilônia e o Capítulo oito mostra que os costumes dos judeus palestinos à mesa eram muito inspirados nos costumes romanos.
Por algum motivo desconhecido, o tratado de Brachót está na "Ordem" de Zeraim, ou seja, Sementes. Nas edições completas do Talmud, este tratado sempre figurou como o primeiro tratado. A razão para isso é clara - como sugeriu Maimônides - pois os preceitos nele tratados - a recitação do shemá e da tefilá e as bençãos - figuram entre os primeiros que chamam atenção de um judeu em sua vida cotidiana, e também são um dos primeiros preceitos ensinados à criança judia. Por conter poucas passagens sobre discussões legais, o tratado de Brachót é um dos tratados mais fáceis, e por isso, junto com o fato de possuir inúmeras Agadot, talvez este seja o tratado mais indicado para se iniciar o estudo do Talmud.